Neo-Feminismo, a tragédia.
No passado dia 20 de Fevereiro, calhou a ver o telejornal da SIC (normalmente não vejo televisão, o que vejo são séries e na maioria das vezes vejo na televisão mas não através dos canais de TV) e por acaso coincidiu com a transmissão da reportagem "Acha que conhece o seu pais?", sobre a Igualdade de Género. Resolvi então assistir àquela coisa.
Fiquei absolutamente horrorizada com os resultados do excelente trabalho que as mulheres portuguesas têm estado a fazer na educação da sua prol. A todas vós tiro-vos o chapéu e faço a devida vénia por conseguirem pôr todas as grandes senhoras que alguma vez lutaram pela igualdade de género às voltas no túmulo.
Com todo o devido respeito, Evas sois uma nódoa. Vós e o vosso neo-feminismo de merda.
Essa cena de resgatar a feminilidade redefinindo a condição da mulher na perspectiva do sexo-precioso que deve ser cuidado, não por que é frágil mas, pelo seu valor desperta em mim... o Godzilla. Sabem porquê? Porque continua a insistir-se na conversinha objectificante do sujeito.
Sabem o que é que se faz com uma pedra preciosa? 2 coisas:
- Guarda-se bem guardadinho dentro de um cofre, para não ser roubada;
- Ostenta-se e exibe-se em público para mostrarmos que temos uma e que todos os outros podem morrer de inveja.
Todavia, ao contrário do que acontece com uma verdadeira pedra preciosa, não a podemos vender se nos encontrarmos em situação de insolvência porque chamam-lhe tráfico humano e parece que a legislação portuguesa não gosta muito disso.
Em 2004, o Jornal Público publicou um artigo, de Graça Franco, intitulado Neo-feminismo precisa-se! 13 anos depois, ei-lo. Apesar de não me parecer que fosse esta a direcção ou sequer os resultados que a autora almejava com o artigo que escreveu, infelizmente, é o que há; porque por muito optimismo que a senhora tenha colocado no prefixo "neo", provavelmente, ter-se-á esquecido que todos os conceitos antecedidos por este prefixo tendem a ser algo catastrófico que não vai correr bem.
Não sou uma feminista radical e acho que desde o século XIX já se percorreu um longo caminho mas, pelos vistos ainda há muito para fazer no que respeita à mudança das mentalidades e com isto não me estou a referir às mentalidades masculinas. Estou a referir-me às mentalidades femininas cuja formação começa em casa. Párem de ensinar às vossas filhas que elas têm de saber tratar da casinha! Párem de lhes atribuir rótulos e papeis que vocês não sabem se elas querem! Vocês têm alguma noção do que é que custa lutar este tipo de convenções sociais? Estar constamente a questionar e a pôr em causa dogmas sociais? Eu faço isso desde a adolescência (idade tramada da qual não tenho nenhum tipo de saudades), portanto, como podem imaginar foi bastante lixado, principalmente, porque - como os meus pais ambos trabalhavam - tínhamos uma empregada, vinda das berças, que fazia uma distinção muito vincada entre meninos e meninas.
Ela também achava que eu devia saber desempenhar as tarefas domésticas... Um dia, respondi-lhe que quando isso acontecesse ela deixava de ter utilidade lá em casa. Foi fazer queixinhas aos meus pais lavada em lágrimas... era matreira a tipa (quer dizer ainda é que está viva) mas, era um desafio constante.
Conclusão: Sim, tentaram impôr-me os papeis tradicionais reservados ao sexo feminino. Não, não resultou. Fiz uma fogueirinha bonita com eles e casei-me com um finlândes que não liga a essas merdas. Em casa, não há coisas que eu faço melhor, nem coisas que ele faz pior. Os dois somos capazes de fazer as mesmas coisas. Quando queremos fazer, fazemos. Quando não queremos fazer, não fazemos. Ele tem os interesses dele, eu tenho os meus. Eu não me colo aos interesses dele e ele não se cola aos meus porque não somos gémeos siameses mas, também temos interesses comuns (o que convém, não é verdade?). De qualquer forma, o choque cultural existe e manifesta-se, no entanto, não se coloca na questão do género.
Por isso, senhoras gajas, vejam lá o que é que andam a ensinar à próxima geração de miúdas porque os últimos resultados não são lá grande coisa. Atinem-se.